O Distrito Federal tem a maior desigualdade do país. Símbolo do abismo social, enfrenta 15% de desemprego e 34% dos trabalhadores são informais. É nesse cenário que se desenha a ação da Polícia Militar nesse sábado de fevereiro, ao final da realização de um bloquinho de pré-Carnaval no final da Asa Norte.

A lógica higienista do governo Ibaneis tem feito do DF Legal uma verdadeira mão de ferro sobre o ambulante. A ação feita nesse final de semana, acompanhada pela Polícia Militar, foi mais uma vez intimidadora e abusiva, colocando o trabalhador no lugar de bandido. Na verdade, muitos deles passam horas buscando formas seguras para poderem trabalhar, buscam formas de licenciamento, porque a realidade na volta pra casa é dura.

E assim como em outras capitais do país governadas pela extrema-direita, que aplicam uma política higienista em suas cidades, como o exemplo do estado de São Paulo, o Distrito Federal tem funcionado de forma semelhante. A cada ano de Governo Ibaneis, percebemos uma intensificação da ações truculentas da Polícia Militar do DF durante as manifestações culturais que acontecem nas cidades.

No Plano Piloto, vemos ações violentas da PM com os vendedores ambulantes que em sua maioria, são pessoas negras e de periferia. Isso impede que essas pessoas possam trabalhar e ocupar o centro de Brasília e nisso, também notamos um aumento nas abordagens violentas aos jovens negros e negras que participam desses eventos, em especial no período de Carnaval. Já nas Regiões Administrativas a violência se intensifica e, mesmo aqueles eventos produzidos pelo próprio governo, não escapam da ação violenta da polícia. Havendo uma onda de ações truculentas com todos aqueles que trabalham e frequentam esses espaços culturais nas RAs e muitos desses eventos, no período de Carnaval, nem sequer são apoiados ou respeitados pela Polícia Militar e o Governo do Distrito Federal.

Isso evidencia uma política higienista e racista que quer expulsar a negritude e a periferia dos grandes centros da capital do país e negar o acesso aos espaços de cultura e lazer de forma democrática.

A burocracia, a falta de acesso às informações e a mudança sistemática dos procedimentos para conseguir uma licença dificultam a atuação dos ambulantes, especialmente nas áreas “nobres” da cidade, onde circula o dinheiro. A política da guerra aos pobres faz com que o trabalhador tenha que sair de suas cidades, muitas vezes distantes, em total insegurança, sem saber se volta pra casa com algum dinheiro das vendas, ou se terão suas mercadorias apreendidas de forma irregular.

O uso do gás de pimenta contra a população, tanto ambulantes quanto foliões, demonstra o despreparo da polícia militar para atuação em situações simples e cotidianas, como também evidencia a ausência de um protocolo de ação da polícia para eventos na rua.

Mas se tem ambulante, tem quem compra! Especialmente aos finais de semana, em que diversos bares e restaurantes nem abrem. Se tem ambulante, tem evento na rua! Se tem ambulante tem ocupação do espaço urbano do povo para o povo. E se tem ambulante aos finais de semana de fevereiro é porque já Carnaval!

E se já é Carnaval, é tempo de botar nossos blocos na rua! A resistência é a essência do Carnaval.